A menina que não sabia ler, John Harding

Eu terminei esse livro há meses. Sério, deve ter sido antes de junho, e não consegui fazer a resenha antes porque TCC estava sugando minha vida. Mas como agora a faculdade tá no finzinho do finzinho, dá tempo de por os posts em dia.

A menina que não sabia ler (título original: Florence and Giles – e preciso informar isso porque, que tradução é essa? WTF?) é um típico livro que você compra pela capa. É, eu sei que é feio julgar o livro pela capa, mas esse tem a capa lindamente linda e esse título traduzido que lembra MUITO o incrível A menina que roubava livros, então você fica apaixonado e com vontade de comprar só de olhar pra ele. Injustiça.

O livro conta a história de Florence, uma órfã de 12 anos que vive na mansão meio fantasmagórica, meio abandonada de seu tio, junto com o irmão caçula, Giles (daí o título original, que faz todo o sentido, e é a última vez que reclamo da tradução, prometo). Acontece que o tio nunca dá as caras por lá e deixa alguns poucos criados cuidando da casa, das despesas e da educação dos sobrinhos.

Florence é proibida pelo tio de aprender a ler e escrever. Porém, seu interesse é maior que a proibição e certo dia ela descobre a biblioteca escondida na mansão, aprende a ler aos poucos, vendo as anotações dos criados e explorando os livros disponíveis. Seus dias passam de tediosos para mais interessantes. Entretanto, a história, que é lenta desde o começo, continua no mesmo passo devagar.

Giles então chega à idade de ir para o colégio interno e Florence vive por uma etapa um tanto depressiva, sentindo a falta do irmão e único amigo que possuía. Os livros se tornam sua fonte de alegria no meio de uma vida extremamente monótona. Ela continua em contato com o irmão através das cartas lidas pelos criados, já que teoricamente ela não saberia fazê-lo.

Lembrei que uma vez havia cortado em duas uma carta – a rainha de espadas -, bem no meio, pensando em fazer duas rainhas de uma, uma imagem em cima e a outra em baixo, mas descobri que havia ficado sem nenhuma, com duas partes inúteis por si só, e pensei que assim era eu sem Giles, que era uma parte da minha pessoa.

Contudo, devido à problemas com os colegas da escola e ao baixo desempenho estudantil (o menino deve ter algum problema de aprendizado, no livro ele é descrito como devagar/lerdinho) acaba sendo expulso e volta para a mansão. Dessa forma, os criados contratam uma preceptora (Srta. Whitaker) para continuar a educação da criança.

Como tudo pode dar errado nessa história, Whitaker sofre um acidente misterioso e acaba morrendo afogada no lago. Depois disso parece que o enredo vai melhorar, com a contratação da substituta Srta. Taylor, a qual está envolvida em mistério desde sua primeira aparição e Florence a torna imediatamente sua maior inimiga. As coisas começam então a ficar estranhas e o que parecia um ponto de melhora acaba tornando o livro confuso.

Depois do aparecimento de Taylor, tudo fica extremamente misterioso e coisas bizarras começam a acontecer. Chega ao ponto de você não saber se os acontecimentos fazem parte da realidade ou estão apenas na imaginação de Florence. Acho muito mais provável que grande parte seja imaginação, porque é bem bizarro mesmo, mas nada fica claro e cabe ao leitor decidir se acredita na narração ou em outra coisa.

Porém, pra não dizer que odiei o livro, além de todas as citações literárias apaixonantes, existem trechos com uma ótima narração e o clima fica quase eletrizante com toda a carga de mistério e confusão.

Houve um farfalhar e seda e eu me virei e olhei quando, sem outra palavra, ela se afastou. Voltei-me para o espelho e o que vi ali gelou meu sangue. Pois de pé, atrás de mim, com um sorriso triunfante, zombereiro, estava a srta. Taylor. Olhei imediatamente por cima do ombro, mas ela já tinha ido. Virei-me para o espelho e lá permanecia seu reflexo, rindo silenciosamente, ainda olhando por cima dos ombros da minha imagem. Sinti-me tonta, pisquei, mas, quando abri os olhos, lá estava ela. Sacudi minha imagem para livrar-me do seu toque e saí correndo pelo corredor, atrás da srta. Taylor real, mas não consegui evitar parar e olhar para o espelho uma última vez. E lá estava, ainda, seu reflexo preso no espelho, com a cabeça para trás, rindo um sorriso terrível, silencioso.

Para finalizar, no começo eu realmente acreditava que as coisas poderiam ser reais, mas depois do final surpreendente, cheguei a conclusão que Florence é que era a louca da história e estou mais propensa a pensar que todo o clima de terror e suspense na verdade era imaginação da menina. Porque depois de tudo que ela faz, simplesmente não dá pra acreditar nela como vítima.