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O Anjo, entrevista com o escritor Ricardo Reys

Há algumas semanas o escritor Ricardo Reys (simpatia em pessoa) entrou em contato conosco para contar sobre seu livro de estreia, O Anjo, que nós quisemos conhecer imediatamente. Recebemos exemplares alguns dias depois e devoramos na velocidade de todos os acontecimentos de sua trama.

Sinopse: Há sete deles. São os melhores, os mais completos, os mais mortíferos. Todos com nomes de anjos, todos juízes do céu e do inferno, que punem com a morte aqueles que a paz ameaçam. E numa fria manhã no Canadá, Anjo Gabriel vê-se obrigado a deixar a filha, que acabou de conhecer, bem como a vida de pai que acabara de abraçar, a fim de partir na mais perigosa missão que já lhe foi dada. Justamente aquela que ele nunca conseguiu completar. Perseguições em alta velocidade, tiroteios incessantes, romance, drama e suspense numa sedutora aventura que o arrastará por todo o mundo. Um mundo oculto. Um mundo perigoso. Um mundo em que somente os anjos sobrevivem.

 

Ricardo é natural do Rio de Janeiro e publicitário de formação, abraçou sua paixão por inventar histórias e resolveu colocar no papel. Publicou seu livro pela Editora Verve, com a qual participou da Bienal deste ano, mas já teve um de seus contos publicados anteriormente na antologia O Último Livro do Fim, pela editora Baluarte.

Como tivemos essa rara oportunidade de um contato tão próximo com o escritor, pedimos que ele mesmo contasse sobre seu livro e sua história através de uma entrevista.

Divirtam-se, e no final tem surpresa!

 

Como surgiu a ideia para O Anjo?

Na verdade, o Anjo, como história, começou por volta de 1998, 1999. Na época, eu e uns amigos de infância nos reuníamos semanalmente para jogar RPGs. Começávamos os jogos do zero, criando todo o roteiro, o cenário, os personagens, e daí, levávamos uns bons meses para terminar o jogo. Na época, tínhamos até dúvida se o que fazíamos mesmo era RPG, pois não pensávamos em regra nem em nada relacionado. O que gostávamos era de inventar histórias e embarcar nelas. E como eu sempre gostei muito desse lado da coisa, acabava sendo eu que mais inventava.

Foi assim com O Anjo. Queria criar uma história envolvente e cheia de reviravoltas, bem cinematográfica mesmo. E depois disso, por necessidade de ter um ganha-pão, comecei a tentar levar a coisa para o lado mais profissional. Isso foi em 2005, mais ou menos. Então, foi só questão de transformar O Anjo para o formato literário.

Como foi o processo de criação e quais as dificuldades encontradas?

Sempre gostei muito de trilha sonora orquestrada. Recorria a ela quando buscava mais estímulo para determinada cena. Por exemplo, se fosse escrever uma página com muita ação, botava para tocar Hans Zimmer e James Newton Howard. Expectativa, recorria à Craig Armstrong e Eric Serra. Drama, Thomas Newman… Cheguei a fazer um CD do Anjo para ouvir quando estivesse viajando, e longe do computador. Sempre fui meio doido mesmo… Alguns momentos eu simplesmente me desligo da realidade, viajando para o plano da história e realmente vivendo a cena. Com o Anjo não foi diferente. Ouvia a música do Hans Zimmer na cabeça, e assistia a cena do livro tal qual um filme. Nem preciso estar escrevendo. Ficar parado no meu canto já basta para roteirizar a obra. Passar para o computador é só um desfecho.

Daí vem também uma dificuldade do livro. Eu queria que o leitor vivesse o mesmo que eu. Para isso, tive que ir contra minha própria personalidade. Sempre fui naturalmente inseguro – talvez, até por conta da minha própria imaginação -, e tinha medo do leitor não visualizar a cena da forma como eu desejava. Mas, se fosse detalhista ao excesso, podia deixar o livro chato demais. E isso também eu não queria. Portanto, escrever o Anjo foi, também, um exercício de como lidar com meus anseios. De como vencer a minha insegurança e deixar o leitor se situar por conta própria. Aprendi a confiar nele. Hoje, posso dizer que o momento em que me sinto mais seguro é quando escrevo.

Quais livros e filmes foram usados como inspiração no desenvolvimento do livro?

As influências sem dúvida começaram por 007 e outros filmes de espionagem. Mas foi ganhando mais profundidade quando comecei a ver Christopher Nolan. A forma como ele mescla drama, grandiosidade, expectativa e desfecho… é genial. Na literatura, porém, Tubarão de Peter Benchley, e O Caso dos Dez Negrinhos de Agatha Christie ajudaram bastante.

Alguém que eu realmente me inspirei para traçar o perfil de Gabriel foi o meu pai. É um típico humor sagaz, com tiradas, que transita entre a genialidade e uma certa arrogância. Além disso, me inspirei muito em mim mesmo para idealizar o personagem. Gabriel é o núcleo do livro. É a ele que o título se refere, e, portanto, deixá-lo atrativo não foi só um desafio. Foi uma obrigação. Tive que torná-lo um ideal para o leitor. É um personagem que só é possível de existir na arte. Se tivéssemos um Gabriel na vida real, ele só viveria até a quinta página.

Em seu texto notamos muitas frases curtas e invertidas. Podemos dizer que você está desenvolvendo um estilo próprio de escrita?

Sim, mas foi acidental. Acredito que todo escritor tem que se basear nele próprio para traçar um perfil do leitor. De fato, um escritor escreve o que gosta. E, quem irá lê-lo, pelo menos até o final do livro, será um cara com os mesmos interesses dele. Por isso, sou muito paranoico em deixar a obra no ponto que eu, como leitor, gostaria de lê-la. Desse modo, foram dias, semanas e meses tentando deixá-la mais fluída, natural e ágil. Tal qual o filme que eu gostaria que fosse. Dentro disso, as frases curtas e invertidas foram uma marca, menor, por exemplo, que a narrativa no tempo presente, tal qual um roteiro. Tudo isso para deixar a obra com um teor grandioso, original, porém agradável e ágil.

No final do livro você demonstra que haverá uma sequencia. Você já está trabalhando em uma continuação?

Sim. Estou na metade dela. Na minha cabeça, tenho, pelo menos, mais cinco histórias com o personagem. A ideia é que Gabriel seja um personagem sem prazo de validade. Mas além dele, tenho outras histórias para escrever. Por mais que goste muito do personagem, não quero ficar marcado só pelo Anjo.

Quais as dificuldades que um jovem autor encontra para ter seu livro publicado no mercado brasileiro?

Enfrentamos as dificuldades óbvias de todo segmento cultural. A cultura, no país, não é corretamente assimilada, não só pela falta de preparo do público, mas, acredito também, por uma incapacidade dela própria se sustentar. A cultura nacional é extremamente segmentada, mas não no sentido positivo. É uma cultura de exclusão, periférica, que atinge o seu máximo nos diversos nichos culturais que temos – e são muitos. Porém, falta uma cultura mãe, algo base, que se proponha a entreter sem distinção. E é essa a cultura que alavanca uma nação. Não partes dela separadamente, ou mesmo heranças de seu passado. É preciso unir, não segregar.

Ainda nesse tema, ao meu ver, no país preocupa-se muito em realizar obras culturais de protesto, passando mensagem. Mas a obra, se tiver a qualidade em primeiro plano, e a mensagem naturalmente enraizada, não de uma maneira forçada, mas sim intrínseca em seu cenário, será corretamente assimilada pelo público. Do contrário causa estranheza.

Por que eu disse isso tudo? Porque eu realmente acho que nós – como agentes culturais – temos uma parcela de culpa no preconceito à cultura brasileira, e, da mesma forma, do afastamento do grande público à leitura. No momento em que diminuirmos esse “gap”, essa aversão à cultura, certamente a arte – e principalmente a leitura -, será melhor desenvolvida.

Daí, editoras e livrarias, como um todo, se sentirão mais seguras no retorno com os escritores nacionais, novos nomes serão observados com muito mais expectativa, e novos olhos se abrirão para suas histórias.

Hoje o cenário, infelizmente, não é legal. Tivemos uma melhora, mas ainda insuficiente para garantir a vida profissional do escritor comum, e uma quantidade bacana de títulos nacionais com qualidade chegando às livrarias. É um ambiente incerto para quem está começando. O cabra precisa ser confiante, mas nunca, nunca mesmo, arrogante. É preciso saber ouvir, tanto quanto escrever, mas sempre com a certeza de que sabe o que quer.

Muitos, por exemplo, defendem que o escritor deve possuir um público já formado antes de se lançar no mercado editorial. Ok, pode funcionar. Mas por mais que seja um tremendo facilitador, isso é varrer o problema para debaixo do tapete. É um sintoma da carência de apelo que a escrita possui.

Felizmente existem editoras como a Verve, por exemplo, que se preocupam com o escritor, provendo meios para que ele chegue ao grande público, mas mais do que isso, orientando-o num processo colaborativo que transcende a obra, valorizando-o como um profissional da cultura.

O que você acha da nova geração de autores brasileiros, como Raphael Draccon, André Vianco, etc.?

Antes de tudo, acredito estarmos vivendo a maior renovação literária dos últimos anos. Em parte, facilitada pelas novas mídias. Graças a elas, são escritores que sabem se colocar bem próximos do seu público, e isso não é só no livro. É uma tendência que certamente irá aumentar mais e mais. E quanto à obra, por si só, gera interesse num público de massa, não buscando a distinção de classes, ou razões de leitura. Mas cuidando da história como um captador de interesses. Em suma, narrativas novas, com qualidade, bem roteirizadas, que se proponham a ir além de uma introspectiva. E isso é ótimo, não só para os leitores, como para a literatura como um todo. Estamos num estágio em que o sucesso de um, a médio, longo prazo, melhorará o mercado para todos.

Quais seus autores preferidos?

Serve diretores? Sou muito ligado à filmes, e sempre busquei tratar roteiros e livros num só nicho. Dito isso, como já falei, Christopher Nolan é o maior expoente para mim. A forma como ele, e o irmão Jonathan, assinam os roteiros de produções como A Origem, O Grande Truque, Amnésia e os três últimos Batman, transcende a tela e fica marcante como uma obra ímpar, pouco importando se é papel, ou filme.

Se o livro fosse adaptado para as telonas, quem você sugeriria para interpretar Gabriel e Miguel?

Para Gabriel, certamente um ator desconhecido. Um cara que ficaria marcado pelo papel, ajudando, inclusive, na construção de sua identidade. Igual como foi com 007 e Sean Connery. Seria preciso que fosse um ator duro, mas que soubesse ter carisma e sensibilidade. Não pode ser um rosto muito bonito. O barato de Gabriel é que ele é charmoso, não pela beleza, mas sim pela postura. Já Miguel, um cara que passasse certo abatimento no olhar, mas ao mesmo tempo convicção e impetuosidade.

Quer descobrir os segredos que O Anjo esconde?
O escritor vai presentear um de nossos leitores com um exemplar do livro!

Regras para participar:

A pessoa de qualquer parte do Brasil que deseja participar deve preencher o formulário do Google Docs abaixo UMA ÚNICA VEZ até às 23h de segunda-feira, 16 de setembro.

Por favor, preencha corretamente seu nome completo e e-mail no formulário.

O ganhador será escolhido na terça-feira (17 de setembro) através do Google Docs e Random.org e será anunciado no mesmo dia.

 

Inscrições encerradas!