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Proibido, Tabitha Suzuma

Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzama tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, profundidade e mistério.


O trecho acima está na contracapa e, apesar de em muitos livros ser uma área com alguma frase buscando apenas atrair leitores, muitas vezes as afirmações são exageradas. Não nesse caso. Proibido realmente destila sutileza e sensibilidade diante de um tema que está bem além do complexo: o incesto.

Quando olhei no catálogo da Valentina, Proibido me chamou a atenção de primeira justamente por isso. Um livro sobre incesto no ponto de vista daqueles que o vivem. É claro que é uma história fictícia, mas ainda assim muito enriquecedora para reflexão, existem certos assuntos que no dia a dia simplesmente não paramos pra pensar, certos preconceitos tão intrínsecos na nossa sociedade que nem sequer paramos para questioná-los.

– Como o nosso amor pode ser considerado horrível, quando não estamos fazendo mal a ninguém? (…)
– Como uma coisa tão errada pode parecer tão certa?

Lochan é um garoto de 17 anos que foi abandonado pelo pai aos 12 e desde então é considerado o “homem da casa”, encarando todas as responsabilidades que o termo carrega. Para piorar, a mãe passa o tempo todo fora e nos poucos momentos em que aparece, está bêbada ou de ressaca, é Lochan quem precisa correr atrás dela para conseguir ao menos o dinheiro para pagar as despesas básicas da casa.

Maya por sua vez tem 16 anos e junto com o irmão mais velho cuida das tarefas domésticas e de seus três irmãos mais novos: Willa (5 anos), Tiffin (9 anos) e Kit (13 anos). Como se isso não bastasse, Lochan ainda apresenta um quadro de fobia social, tendo grande dificuldade para se comunicar em público ou até mesmo com professores e outros funcionários da escola. Em casa, com sua família, é o único local que consegue se comunicar e construir um tipo de relacionamento.

Os outros são desconhecidos, são estranhos. Nunca se transformam em amigos. E mesmo que se transformassem, mesmo que eu descobrisse, por algum milagre, um jeito de me ligar a alguém de fora da família, como essa pessoa poderia se comparar àqueles que falam a minha língua e sabem quem eu sou sem que eu precise dizer? Mesmo que eu fosse capaz de enfrentar seus olhos, mesmo que fosse capaz de falar sem as palavras travarem na garganta, incapazes de aflorar, mesmo que os olhos delas não queimassem minha pele e me fizessem ter vontade de correr um milhão de quilômetros, como poderia vir a amá-las do jeito como amo meus irmãos e irmãs?

Só por aí já dá pra começar a imaginar que os dois não são simplesmente irmãos, eles foram sim gerados pelo mesmo ventre, têm o mesmo pai e a mesma mãe. Entretanto, no cotidiano não são como irmãos, mas sim como os adultos responsáveis por aquela família, cumprem o papel de pai e mãe para os irmãos e compartilham todas as dificuldades, se apoiam um no outro quando os problemas são grandes demais. Antes de irmão, são companheiros.

Então, por que não? Por que a sociedade precisa limitar o amor e proibir o relacionamento dos dois? Um ponto crucial para mim foi a fobia social de Lochan, ele não conseguia se relacionar com ninguém, seus únicos amigos eram seus irmãos, e Maya era muito mais que isso, faz todo o sentido que tenha visto na irmã a mulher por quem se apaixonar. Mas isso sou eu, vendo a situação como uma leitora, não como participante ativo do processo.

É claro que se para mim já foi estranho no começo, para eles foi ainda mais difícil aceitar.

Sinto tanto nojo de mim que tenho vontade de fugir do meu próprio corpo. (Lochan)
Nós não somos assim. Não somos doentios. (Maya)

Contudo, aos poucos a história vai se desenvolvendo e esse relacionamento se tornando claro e, se não totalmente possível, ao menos completamente aceitável. Tanto para leitores como para personagens. De forma delicadamente emocionante, a autora Tabitha Suzuma nos envolve nesse tabu e nos faz torcer pelos dois irmãos. Nos faz perceber que uma coisa que parece tão certa não pode ser assim tão errada.

No fim das contas, é o quanto você pode suportar, o quanto pode resistir. Juntos, não fazemos mal a ninguém; separados, nós definhamos.

Deu pra perceber que gostei do livro, né? A narração é agradável e a velocidade boa, nem muito rápida nem muito lenta. O problema foi o final (estou evitando os spoilers, juro!). Sabe quando torcemos tanto para que tudo dê certo que esquecemos que na realidade aquilo nunca teria um final feliz? Então, Proibido é assim.

Durante todo o livro fiquei torcendo e esperando que no fim tudo podia dar certo. Acho que por uma junção de torcida minha com a esperança de Maya, talvez realmente pudesse funcionar, mesmo que demorasse um tempo, podia dar certo. Mas não seria tão realista se isso acontecesse, nem tão envolvente. Precisei de alguns dias para digerir o final, mas depois compreendi sua necessidade. Não concordei, mas aceitei.

Em que altura você desiste – e decide que já basta?


Título Original: Forbidden
Editora: Valentina
Páginas: 304