O sentido de um fim, Julian Barnes

“História é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação.”

Acho que passei os últimos dois meses encarando essa resenha e pensando em como resumir, indicar ou falar sobre os efeitos que este livro pode causar. O rascunho estava salvo no wordpress desde o dia em que terminei de ler a última palavra da história de Tony Webster. Tudo que escrevi parecia bobeira, mas resolvi terminar logo, lembrando que esse blog não foi feito pra acertar sempre, e que ele é principalmente sobre o impacto que cada livro nos causa, e este foi um bem difícil pra mim.

Um charmoso sessentão, Tony Webster, narra sua história sentado em uma confortável poltrona de couro, bebericando whisky vez ou outra, em sua impecavelmente organizada sala de estar. Pelo menos é assim que imagino. (Essa foi a primeira frase que escrevi naquele dia, viu como é boba?)

Com certa pompa, Tony descreve um pouco de sua juventude com seus amigos de colégio, detalhando alguns acontecimentos irrelevantes e esquecendo fatos que poderiam ser essenciais, como nossa própria memória costuma fazer. Ele constrói o cenário de sua vida de forma que pensemos “que homem bom, que homem comum, que cara chato!”.

Fala sobre ele mesmo e sobre todos nós quando cita as esperanças e sonhos que carregamos na juventude, e como tudo pode mudar em certo ponto, e como encontramos desculpas para nossas não-realizações.

Nós achamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo prudentes. Nós imaginamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo apenas covardes. O que chamamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas em vez de encará-las.

Já no presente, nosso protagonista recebe uma herança completamente inesperada, o que o faz resgatar acontecimentos que ele fez questão de ocultar, ao forçar a memória e entrar em contato com pessoas do seu passado acaba descobrindo que ele mesmo em certo ponto da vida era uma pessoa muito diferente de quem pensava.

Claro que o procuramos ao ler é realmente o sentido de um fim específico, mas deixando as mínimas revelações para o final, Julian Barnes não dá respostas, as conclusões e perturbações ficam por conta do leitor.

Qualquer spoiler sobre esse livro é tirar todo encanto dele. O que fazemos hoje pode até não nos afetar no futuro, mas pode afetar outros, uma palavra mal dita, pra não dizer maldita, pode martelar eternamente na cabeça de alguém.


O sentido de um fim
Julian Barnes
Rocco
Tradução: Léa Viveiros de Castro
Páginas: 160
Ano: 2012