O Livro do Cemitério, Neil Gaiman
A mão estava no escuro e segurava uma faca. A faca tinha uma cabo de osso preto e lustroso, e uma lâmina mais fina e mais afiada do que qualquer navalha. Se ela cortasse você, não daria para saber que foi cortado, não de imediato. A faca tinha feito quase tudo o que fora fazer naquela casa, e ambos, lâmina e cabo, estava úmidos.
Poderia ser um programa de culinária ou uma propaganda da Tramontina, mas esse é o trecho inicial de O Livro do Cemitério, do talentosíssimo e amor da Amora Neil Gaiman. Brincadeiras à parte, é com muito mistério e suspense que se inicia a história de Ninguém Owens, um garoto que, ainda bebê, escapou do homem chamado Jack – um assassino impiedoso que deu fim à (quase) uma família inteira.
Em sua fuga oportuna, Nin (para os íntimos) foi parar em um cemitério, onde ganhou o inusitado nome ao ser adotado por um casal de fantasmas. Nesse dia fatídico, o garoto também ganha um guardião, Silas, responsável por trazer comida, livros e tudo que o garoto precisa do mundo terreno dito normal. Silas não é fantasma. Mas também não é vivo. Ele é… especial.
Apesar da passagem do tempo ser bem rápida – alguns anos a cada capítulo – é possível acompanhar o crescimento de Nin – desde um pequeno bebê, até um jovem adolescente. Entre covas e mausoléus, vamos descobrindo um mundo mágico e diferente, repleto de portais ghouls, dança macabra e sabujos de Deus, ao mesmo tempo em que ele se aventura em situações mundanas, como ir à escola e lidar com bullying.
O livro me lembrou bastante Harry Potter: o menino órfão que teve os pais assassinados por um homem mau que ainda o persegue e vai viver em uma terra sobrenatural cheia de aventuras inusitadas. Tudo isso com pequenas sutilezas que fazem a história ser de Neil Gaiman e não de JK Rowling. Isso não é um ponto ruim, pelo contrário, é mais uma história excelente para seduzir as crianças para esse mundo maravilhoso da leitura.
Tanto é que ele foi ganhador da medalha John Newberry, a mais prestigiada premiação da literatura infantojuvenil norte-americana e permaneceu na lista dos mais vendidos do The New York Times por mais de 50 semanas!
Para os adultos e alguns adolescentes, talvez o livro fique um pouco aquém das expectativas. Particularmente, fiquei esperando grandes acontecimentos, mas a história se resolveu de forma rápida e quase indolor.
As ilustrações são de Dave Mckean, parceiro de longa data de Gaiman e ilustrador de Sandman, Orquídea Negra, Morte, Coraline, Os lobos dentro das paredes, O dia em que troquei meu pai por dois peixinhos dourados, Sinal e Ruído e Mr. Punch.
O sucesso foi tamanho que a obra já virou história em quadrinho e reza a lenda que ganhará uma adaptação cinematográfica. Vamos aguardar ansiosamente!
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O Livro do Cemitério – Neil Gaiman
Título Original: The Graveyard Book
Editora: Rocco
Lançamento: 2010
Páginas: 336
Cortesia da Editora