Os Day eram um clã que poderia viver à beça
Mas Ben Day perdeu a cabeça
O poder de Satanás o garoto queria
E matou a família em meio a uma gritaria
Da pequena Michelle torceu o pescocinho
Depois de Debby fez picadinho
A mãe, Patty, guardou para o final
E, sem piedade, em sua cabeça deu um tiro fatal
A bebê Libby conseguiu viva permanecer
Mas passar por aquilo de modo algum é viver
– Cantiga de roda nas escolas em 1985
Uma mãe e duas irmãs são brutalmente assassinadas em uma isolada fazenda do Kansas, a pequena Libby Day é a única sobrevivente e testemunha da tragédia que abateu sua família e graças ao seu depoimento, o irmão mais velho, Ben, é condenado pelo crime.
Libby nunca procurou entender o que realmente aconteceu naquela noite, tentou enterrar e esquecer o passado e o que podemos ver é uma garota que nunca cresceu de verdade lutando contra seus demônios e apavorada com a ideia de que num delírio infantil tenha culpado a pessoa errada.
Flynn criou uma protagonista odiável, ela passa dias deitada em sua casa atulhada, não tem relação nenhuma com o mundo real, não tem amigos e explora ao máximo o fato de ter sido vítima de um crime famoso. Na verdade, todos os personagens desse livro são um pouco odiáveis e isso os torna tão reais quanto podemos imaginar, e é bonito ver a evolução deles também.
Se você, como eu, ficou obcecado pela Amy de Rosamund Pike, com certeza pirou um pouquinho quando soube que a maravilhosa Charlize Theron interpretaria mais uma protagonista de Gillian Flynn. Só que dessa vez a escolha não foi tão boa, enquanto lia eu procurava um pouco de Charlize em Libby, mas elas são completamente diferentes fisicamente e me deixava confusa ao imaginar certas cenas, eu não queria a loura-alta-rainha-do-mundo do filme, essa vida miserável cai muito melhor na ruiva-baixinha-feiosa-rabugenta do livro.
Como sempre, a impressão da Intrínseca é de boa qualidade, o material também contribui na leitura, só que a tradução deixa um pouco a desejar. Nada que comprometa a diversão ou o entendimento, mas eu sou bem chata nesse sentido apesar de saber que é muito comum, ainda mais em um volume de 350 páginas.
Lugares Escuros escancara desgraças e violência gratuita, mas traz um pouquinho de esperança, até para os mais desajustados.
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Título Original: Dark laces
Editora: Intrínseca
Tradução: Alexandre Martins
Número de Páginas: 350