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Da Poeta ao Inevitável, Maria Giulia Pinheiro

Hoje li poesia,
virei poeta

Da primeira série à faculdade foram cerca de 3000 dias letivos, dos quais apenas um ou dois foram dedicados à leitura de poesia e, na minha lista de escolhas literárias, o assunto acabou perdendo prioridade. Por isso, quando a Maria Giulia me enviou Da Poeta ao Inevitável – Entre mins, El_s e Seis Deusas eu senti um bruto frio na barriga.

No entanto, a leitura foi como passar a tarde com a escritora em um café, conversando sobre a vida. Suas poesias dando leveza e sonoridade aos problemas cotidianos e mostrando que a nossa alma está em constante transformação – o que somos hoje, não seremos mais amanhã.

Irrigar de sentimento o leito seco da vida real sempre foi o que esperei da poesia.
Welington Andrade

Welington Andrade, doutor em Literatura Brasileira pela USP e professor da Faculdade Cásper Líbero, escreveu um lindo prefácio onde diz que Maria Giulia entra meio sem pedir licença (como convém aos poetas e às crianças) na casa de sua língua-mãe e vai colocando tudo de pernas para o ar.

É dessa maneira que a jovem autora fala, com desenvoltura, sobre amores, desamores, sexo, aborto (um poema excelente, aliás) e o universo feminino. Em pouco mais de 150 páginas, ela conquista nossa admiração, deixando-nos ansiosos pelo seu próximo trabalho.

Maria Giulia Pinheiro formou-se em jornalismo pela Cásper Líbero, atriz pelo Célia Helena Teatro-Escola, roteirista especializada em TV pela Academia Internacional de Cinema e ainda cursa ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. É diretora e dramaturga do grupo de pesquisas teatrais Companhia e Fúria. Em 2012, foi diretora e dramaturga da peça Bruta Flor do Querer, em cartaz em São Paulo. Em 2013, co-dirigiu a montagem de O Quarto Ausente do grupo Sensório-Cena. Acredita que existe uma batalha a ser travada no campo do imaginário: criar realidades de poder feminino e explorar arquétipos diferentes do herói guerreiro. Escreveu o manifesto Por um imaginário em que explora as contradições dessa pesquisa estética/existencial, publicado em oconvento.wordpress.com.

Pra te deixar com gostinho de quero mais:

Oração

Deus, queria que
Você dançasse comigo.
Queria ritmar passos trocados,
no nosso pulsar conjunto.

Talvez nossos pés se batam às vezes,
dodecafônicos.

Mas tudo bem,
nós não vamos desistir do
nosso desenho neste tempo espaço presente,
mesmo que desajeitados e livres,
porque os peitos colados são mais importantes
que todo o resto, não são?

Dança comigo, Deus.
Seja meu parceiro nesta valsa,
equilibra minhas pressões,
o peso, o chão, impulso e voo.

Só Você seria capaz
de me conduzir delicado,
de me apoiar,
Lhe apoio também!,
ando precisando de
me entregar a um forte,

e juro, Deus, juro!,
sou capaz de receber
a sua entrega.

Me ensina a dançar todo dia,
que não aguento ter de renascer
cada manhã.
Meus tropeços sempre novos e sozinhos
são tristes, Deus,
e queria tanto que fossem dança,
que flutuassem nas mãos de alguém.

Mas sinto, Deus,
que a única explicação pra este vazio
é sua.

E eu, que tenho tentado devolver a alma
que Você me emprestou
como uma explosão estética
que nos livrasse
da dor
de criar,
sou apenas uma
bailarina solitária
no meio do palco.

Me tira pra dançar, Deus,
que já não suporto
meu solo.