O tempo é implacável.
E como não poderia ser diferente, o tempo é o tema central desse surpreendente livro. Um pouco triste, mas justamente por isso verdadeiro, A Visita Cruel do Tempo fala em sua essência sobre como o tempo age em nossos planos e anseios. Como os sonhos da juventude raramente se tornam realidade, e aponta experiências traumáticas que mudam drasticamente os caminhos que seguimos.
Ele segue uma linha parecida com os filmes Crash e Babel, onde várias histórias são contadas paralelamente, mas estão conectadas às vezes por imperceptíveis fios. (Não me lembro de ter lido nenhum livro nesse estilo, por este motivo não tenho outras referencias.) O livro é dividido por capítulos, cada um revela a história de um novo personagem, em períodos que vão da década de 70 até um futuro próximo.
Mas na minha opinião, a narrativa é a grande estrela dessa história.
Não há padrão, cada um dos capítulos é uma surpresa e você precisa se concentrar um pouquinho(só um pouquinho) para entender a nova dinâmica. Os personagens se cruzam em diferentes épocas, de maneiras sutis ou decisivas, o que nos permite ter uma visão ainda mais ampla da passagem do tempo.
Dois capítulos em especial me chamaram atenção, um deles narrado em segunda pessoa, contado por um jovem com distúrbios psiquiátricos, a sensação é muito estranha, me senti na pele do personagem, olhando por seus olhos em vários momentos.
“Você ouviu dizer em algum lugar que o fato de sorrir deixa as pessoas mais felizes. Pôr o braço em volta de Sasha faz você querer protegê-la.”
O outro é contado por uma garotinha de 12 anos, em uma apresentação de slides, essa é a forma que Alison Blake usa para se expressar. Nunca pensei que uma fosse possível contar uma história de forma tão pura e simplificada e mesmo assim emocionar o leitor.
Apesar de tudo, não é um livro de lamentações, a vida é uma série de possibilidades, o tempo bate à porta inegavelmente, mas a felicidade pode bater também.
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A Visita Cruel do Tempo
Jennifer Egan
Editora Intrínseca
Tradução: Fernanda Abreu
Ano: 2011
Páginas: 335