Summer Rain

* Por Felipe Trevisan

Era uma vez
Um grãozinho de areia.
Vivia em uma praia qualquer,
O lugar pouco importa, afinal.
Vivia sozinho, abandonado,
Como um marginal.
Não tinha ninguém,
E ninguém o tinha.
Vivia sua triste vida sozinha,
Perdido em devaneios
Perdido em veraneios
Perdido em derradeiros
(sim, derradeiros)
Ponteiros.

Os do relógio, sabe?
Tão teimosos
Quanto se pode ser.
Insistiam em continuar
Sua dança agonizante
Que faz o tempo passar.
Insistiam, ainda que o grãozinho
Os implorasse para parar.
Isto porque o tempo traz o verão
E o verão traz pessoas.
Oh, como ele odiava as pessoas!
Tão malcriados, o pisoteavam
Esmagavam e se orgulhavam.
Riam-se, cheios de si,
Enquanto o grãozinho, tão pequenino
Já não sabia se estava aqui ou ali.

Mas, um dia desses,
O anuviado céu escureceu.
Trovões ecoaram,
As pessoas partiram
O calor desvaneceu.
E quando a primeira gota de chuva caiu
O grãozinho correu,
Mas do destino não se corre,
Oh pequenino.
Já estava escrito,
Ele estava fadado a se molhar.
E a quando a gotinha de chuva o atingiu,
Ele descobriu,
Também estava fadado a se apaixonar.

Na chuva eles riram,
Na chuva se perderam
Em devaneios
Em veraneios
E nos malditos, e derradeiros
Ponteiros.
Que o tempo levou.

“Não se vá”
O grãozinho implorou.
“Fique aqui comigo, porque eu te amo,
E também estou certo de seu amor.”
“Era eu uma lágrima”
disse ela
“Que no calor evaporou,
E chuva se tornou.”
“Portanto, não sei amar
Só sei sofrer;
Só sei chover;
Só sei chorar.”
“Não é preciso saber para amar.
Olhe para nós:
Tão diferentes e tão iguais.
Não há regras.
Apenas sinta, se permita,
E vence-se até o frio mais atroz.”

A gotinha enfim entendeu.
O que era amar.
Mas o tempo passou,
E a levou pro mar
Onde tornou a evaporar.
Mas ela, do grãozinho não se esqueceu.
Apenas guardou-o em seu aquoso coração.
“Eu volto”
Disse ela.
“Volto no próximo verão
Para tudo recomeçar
Na próxima chuva…
Só pra te buscar”

Felipe Trevisan é um sonhador. Quer ser um milhão de coisas ao mesmo tempo e ter braço para abraçar o mundo todo de uma só vez. E é por isso que escreve, desde que se lembra da vida, até antes mesmo de saber escrever (quando ditava historinhas para que sua mãe as escrevesse). Tem uma parte da alma rabiscada em letras vermelhas. É estudante de Letras na Universidade Estadual de Londrina e futuro professor. Ou é o que acha, afinal, quem é que sabe do futuro?

Mais do Felipe no Insanidade Paradoxal.