Estava imersa em seu trabalho, com os grandes fones de ouvido. Ouvia uma banda de indie rock americana que descobrira há pouco tempo e abstraía as conversas ao seu redor.
Sentiu um aperto no coração e lembrou dele. Fazia algumas semanas que não deixava seus pensamentos passearem por aquele terreno arenoso, não era seguro. Fazia algum tempo que não pensava nele. Pelo menos não conscientemente.
Mas ele sempre voltava, como uma necessidade que seu corpo e sua alma tentavam satisfazer.
Talvez você não conheça a história, vou contar.
Eram adolescentes. Grandes amigos. Ele tinha mãos geladas e o corpo quente. Um sorriso bonito e um perfume de primeiro amor.
Conversavam e se gostavam e namoravam, dançando uma balada de amor.
Um dia, a música parou. Estavam no meio do salão, sem saber para que lado dar o próximo passo.
Quando a melodia recomeçou, viram-se em meio a um tango; mais luta e menos dança. Roubou-lhes o fôlego.
Os anos encarregaram-se de distancia-los. Não saberia falar por ele. Mas ela guardou o amor e as lembranças. Seguia apaixonada. Pelo passado.
Tentavam, de tempos em tempos, sincronizar os passos. Mas as músicas não eram mais as mesmas.
Presa no silêncio, ela tentou esquecê-lo. Mas, volta e meia, se via dançando com um fantasma, uma dança que não existia mais.