Uma vez me disseram que amar era apenas questão de tempo, que – cedo ou tarde – todos passariam por isso.
Perguntei-me: Será?
Tudo que sei é que não sei amar, só sei escrever. Ora, até me apelidaram de Máquina de Escrever durante um tempo, na escola. Sim, aquele objeto que produz vocábulos, sem sentimentos e sem saber sentir, mas que ao mesmo tempo consegue juntar as letras e criar tão belas palavras.
Palavras. Elas são tudo que sempre tive. Apenas as palavras.
Mas não posso ser injusto. Talvez se quisesse teria também as pessoas. Não quis. Não depois de tanto tempo observando, sentado em minha escrivaninha tocando os botões que carimbavam letras no papel, percebi que nunca poderia querer pessoas.
Não julgue! É exatamente por isso – e por outra série de motivos – que não as quero. As palavras sim sabem ser boas companhias. Deixam-me ordená-las como melhor me agradar e colocá-las como preferir.
Talvez eu seja um tanto autoritário demais, por isso não quero nem sentimentos nem pessoas. É impossível controlá-las e tê-las verdadeiramente e, por isso, impossível não se ferir com elas.
Mas ora, também não sei sofrer.
Sei apenas escrever.
E ler.
Pessoas.