Geração ensandecida
Ela estava cega de raiva. Não aguentava mais a hipocrisia. Mundinho de merda que colocava o discurso da geração Y na boca e saía vomitando por aí. O próximo que comentasse o fato de ela ser da nova geração teria que sofrer, como exemplo para os outros. – Ui, Ana Lúcia ia apedrejar o gerente da geração X e ser destaque na Intranet. É, não.
Quando todos foram almoçar, ela decidiu ficar pra trás. Tinha a certeza de que seria a pauta do dia e todos falariam sobre sua carranca inexplicável. Fuck this shit. Tentou comer alguma coisa, mas seu estômago recusou até mesmo o conchiglione de quatro queijos. #phyna
Se esbarrou com um bêbado imundou na rua e, entre a putisse e o nojinho, pensou que tipo de pessoa tomaria dúzias de biritas antes mesmo das duas da tarde. Naquela sexta-feira que tinha tudo para ser feliz, ela era o tipo de de pessoa que tomaria dúzias de biritas antes mesmo das duas da tarde.
Fez uma retrospectiva dos tropeços do bebum e achou o bar que o cuspira. Sem saber o que tomar, pediu, com toda a naturalidade que conseguiu fingir:
– Desce uma aí, amigo!
– Uma o que, querida?
– Não me chama de querida! E me dá o que você tiver de mais forte… e barato.
O amigo serviu uma cachaça vagunda de uma garrafa grande. Devia se chamar Cachaça dos desesperados, mas quem se importa? O líquido descia queimando a garganta e levando tudo o que encontrou pelo caminho, inclusive a raiva.
– Quero mais! – disse batendo o copo com força no balcão.
– Querida, você é muito nova pra beber assim, ainda mais a essa hora.
– Querida é a senhora sua mãe! Você não deu lição de moral no Jack Sparrow ali fora, né? Então me dá mais Cachaça dos Desesperados! (seria mais coerente pedir Rum, mas fuck this shit)
Cinco copos depois, a visão embaçada do relógio disse que estava atrasada 10 minutos pra voltar do almoço. Caminhou para o escritório trocando as pernas e cantarolando algo ininteligível.
Percebeu que as pessoas a estavam olhando. Talvez fossem os faróis acesos. Mas quem consegue controlar esse tipo de coisa quando o ar condicionado está ligado?
– Desculpa gente! Vou tentar desligar os faróis – conseguiu dizer antes de ser engolida por uma crise de riso.
– Essa nova geração não tem juízo. São boa mão de obra, mas olha aí… qualquer problema é motivo pra encher a cara.
– Eu vou encher a sua cara, seu palhaço!
Ana Lúcia foi mais rápida do que uma curtida no Facebook, e a suas unhas estavam cravadas no rosto do Zé Luís antes mesmo que ele pudesse gritar por ajuda.
Acordou dois dias depois, em seu apartamento, com sua mãe lhe trazendo um chá e um calmante. Sem dizer uma palavra, a mãe virou a tela do notebook. A profecia se concretizava: Ana Lúcia na Intranet, ensandecida, e o título “Entenda os jovens da nova geração”.
Amanda, (ou será Helôzinha) que grata surpresa encontrar o seu blog. Acompanharei seus textos. Beijos, Fernando Baia.
Oi professor! Que boa surpresa :)
Tentei procurar seus contatos há alguns meses, sem sucesso. Que bom que a vida te trouxe até aqui, rs. Confesso que esse não é um dos melhores textos, mas acompanhando o blog talvez encontre dias mais inspirados!
Sobre a Helôzinha… ela descansa no passado, rs. Deixei as aspirações políticas para trás, eu acho.
Beijo!