– Eu quero o divórcio.
– Você tá falando comigo?
– Não, com a Fátima, minha outra esposa. O que você acha, Helena?
– Mas Carlos, o que mais você quer de mim? Eu faço o seu café, assisto o jornal com você e passo suas camisas.
– Você claramente não tem mais interesse em mim, então eu quero o divórcio.
Desligou a TV e acomodou-se no sofá. Carlos deveria ser o único homem na face da Terra que gostava de discutir o relacionamento.
– Carlos, depois de tanto tempo juntos, como você pode dizer uma coisa dessas?
– Eu vi você olhando pro Roberto na noite passada, quando ele veio jogar baralho aqui em casa.
– Mas é claro que eu estava olhando pro Roberto! Você viu a mancha na camisa dele? Eu não sei como a Lurdes deixa ele sair daquele jeito.
– Ah é? E pro Luiz, hein? Por que você estava olhando para o Luiz?
– E era possível olhar pra outra coisa que não aquele corte de cabelo horroroso? Quem o Luiz pensa que é, o Neymar?
Ele escondeu a risada. Helena era a mulher mais divertida que ele já conhecera, mas não podia ceder ao seu senso de humor naquele momento, eles estavam discutindo o relacionamento.
– Olha, Helena, diga o que quiser, mas eu sei que você não me ama mais.
– Carlos, meu querido, me diz como eu posso provar que você está errado?
– Faz um striptease pra mim!
– Hahaha, você sinceramente acha que eu estou em condições de fazer uma dança sensual?
– Tá vendo? Não me ama!
– Tá bom, se é isso que você quer, espera aqui que eu vou me preparar. E vê se não dorme!
– Eu não durmo se você não demorar – disse com o sorriso de um jovem tarado.
Quando Helena voltou para a sala, a camisola transparente mostrando os contornos do corpo, Carlos sabia que ela o amava, e teve a certeza de que casara com a mulher certa. Ficariam juntos para sempre!
Helena ligou o rádio e começou a dançar, virando de costas para provocá-lo. Subiu na mesa de centro com certa dificuldade – seus joelhos já não eram como antes. Quando virou para ver se Carlos estava gostando, viu o marido estatelado no sofá, a mão no peito e o olhar apavorado. Desceu o mais rápido que pode, ouvindo o corpo estralar. Chamou uma ambulância.
Quando os paramédicos chegaram, não sabiam a quem socorrer primeiro: a senhora com o quadril quebrado ou o velhinho que estava tendo um infarto porque sua esposa de 65 anos estava fazendo uma dança sensual. Sabiam, pelo menos, que havia amor ali.
Foto: Marina Rosso