para Denise
Era um dia típico da primavera brasileiro. As temperaturas amenas combinavam com o cardigan vermelho e a blusa de poá branca. O sol já despontava, com o briho tímido da estação, e ela estava abrindo a porta do casarão quando viu a amiga – e sócia – chegar, com um vestido laranja que dançava com o vento.
Juntas, abriram as grandes janelas e deixaram a luz entrar. As cortinas coloridas davam vida à sala e, junto com os sofás e poltronas espalhadas pelo cômodo, transmitiam um ar aconchegante, de sala de estar.
As estantes repletas de livros abraçavam as paredes e emolduravam o lugar, dando voltas nas laterais. Mais algumas estantes no meio, formando corredores, tinham pequenos entalhes que contavam histórias.
Em uma delas, a plaquinha dizia:
Aqui você encontrará VELHOS AMIGOS – livros que já fizeram companhia a muitas pessoas e carregam consigo várias histórias – e JOVENS AMIGOS que, como muitos de nós, não têm muita experiência na vida, mas são companheiros fiéis.
Eventualmente, as pessoas tinham a sorte de encontrar um velho amigo com dedicatória. Na opinião delas, não existe nada mais encantador no mundo dos livros do que uma dedicatória: a tradução do sentimento.
No canto esquerdo do salão ficava o café Doçuras: bolos, doces, lanches e sucos feito com todo o amor do mundo. Cada qual com o seu nome. Elas adoravam ouvir as conversas do café:
– Oi, me dá um suco Clarice Lispector?
– Eu vou querer um café Jorge Amado, por favor.
As mesinhas tinham toalhas de renda e no centro um arranjo com as flores da estação: lírios brancos.
A escada ao lado do café levava para uma grande sala, com janelas de vidro pelas quais era possível ver o andar de baixo. Ali era o escritório delas. Cavaletes davam forma às mesas. Mais estantes, com os livros que eram praticamente da família e, por isso, precisavam ficar sempre por perto. Uma televisão acoplada na parede e, em frente, o sofá mais confortável do mundo. As almofadas eram pequenas nuvens e o lugar todo parecia saído um sonho. Quando não estavam andando entre os clientes, dando sugestões de leitura e conversando, elas estavam ali, escrevendo.
No fim do dia, as janelas e cortinas seriam fechadas novamente. Juntas, elas contemplariam a plaquinha acima da porta, onde se lia:
Amora Literária
Livraria & Café