Estava de dieta há 83 dias, 11 horas e 22 minutos. Em sua cabeça parecia tanto tempo que os pensamentos sobre comida não a assombravam mais.
Caminhava pelo calçadão sem conseguir lembrar quem estava com ela naquele lugar. Também não conseguia enxergar o mar – estava na praia? O tempo começou a mudar e um vento frio varria a luz do Sol, trazendo pesadas nuvens cinzas.
Atentou Avistou o único estabelecimento aberto do outro lado da rua e sentou em uma das mesinhas que ficavam na calçada.
– A sopa de batatas daqui é fenomenal – disse alguém na mesa ao lado.
– É verdade! Uma das melhores coisas que eu já comi na vida!
O garçom, ignorando o vendaval que se aproximava, calmamente perguntou o que ela gostaria de pedir.
– Vocês fazem a sopa de batata pra viagem?
– Não, servimos apenas para comer aqui.
– Hmm, ok. Eu quero uma sopa e, enquanto isso, me traz a mesma coisa que eles estão comendo.
Engolia tudo com velocidade, tinha que sair dali antes que o vento a arrancasse do chão.
Viu o garçom voltando da cozinha carregando uma tigela fumegante na bandeja – a sopa! Antes que ele pudesse chegar à mesa, porém…
… o despertador tocou, interrompendo o fluxo de saliva que lentamente pingava no travesseiro. O choque de decepção foi acompanhado por um ronco na barriga. Uma vida privada de pratos apetitosos até enquanto dormia – não valia a pena. A caminho do trabalho, parou na padaria e pediu um sonho, recheado, de verdade.