Clube de Compras Dallas
Em 2004 eu estudava em um colégio politécnico que ficava dentro do estacionamento de um shopping, quase ninguém acredita, por que a unidade só ficou nessa locação por 5 anos. O que tem de relevante nisso é que em uma manhã qualquer o colégio fechou uma das salas do cinema para que nós assistíssemos o recém-lançado Cazuza: O Tempo Não Para.
A sessão gerou muita discórdia, pais horrorizados que seus bebês (entre 15 e 18 anos) vissem aquela pouca vergonha na telona e em companhia de outras 300 crianças influenciáveis, que sairiam dali transando loucamente, se drogando e pegando AIDS.
Não me lembro qual foi intenção educativa do colégio, mas o que me impressionou realmente no filme foi a ignorância com que a AIDS e o vírus HIV eram tratados nos anos 80, a cena do Cazuza na praia, logo depois de ouvir do médico que nunca mais poderia beijar ninguém, nem emprestar suas roupas, foi a única que ficou gravada na minha memória.
No fim de semana passado eu finalmente assisti Clube de Compras Dallas, estrelado por Matthew McConaughey, inspirado na história real de Ron Woodroof. Um cowboy (heterossexual machista) contrai HIV através de sexo sem proteção e seringas contaminadas. No seu diagnóstico o médico informa que ele tem no máximo 30 dias de vida.
Woodroof é um escroto, impossível não odiá-lo no início do filme, vive de golpes, sua casa é um chiqueiro e o objetivo de vida é alcançar mais uma mulher fácil e se vier com alguma droga, melhor ainda. Tão logo seu diagnóstico se torna público o protagonista é hostilizado pelo seu grupo de amigos que acredita que ele só pode ser homossexual.
Vemos então o cenário parecido com o que Cazuza enfrentou, uma sociedade sem informações e cheia de medo.
A curta expectativa de vida e o afastamento da rotina impulsionam Woodroof a buscar alternativas para sua condição. Ele vê uma oportunidade lucrativa quando encontra no México um tratamento com base em fortalecer o corpo, ao invés de enfraquecer o vírus.
A partir daí vemos a transformação de Woodroof na tela e a excelente atuação de McConaughey, ao criar o Clube de Compras em parceria com travesti Rayon (Jared Leto) o personagem se torna tolerante e generoso, lutando não mais por estender somente seu dias, como toda uma população infectada. McConaughey consegue transmitir essa mudança de forma real, nada de santidade inatingível.
Um dos objetivos do longa é criticar o FDA, órgão governamental que testa e aprova novos medicamentos, o que se torna um pouco repetitivo, mas é a luta de homens comuns contra uma força milionária, e esses processos são lentos.
Saí do filme ainda mais encantada com o talento de Matthew McConaughey, que tinha lugar reservado na minha memória como o ‘canalha bonitão’, Jared Leto é outro que impressiona, quase irreconhecível na pele da divertida Rayon.
Clube de Compras Dallas é uma história sem data de validade, com certeza merece lugar na sua lista.
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