Outro dia me deparei com o documentário Sebos e Sábios, gravado por uma das turmas de cinema da faculdade Estácio. Com apenas quinze minutos, o vídeo levanta alguns pontos importantes sobre hábitos de leitura e a importância dos sebos na sociedade.
Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida – Erasmo de Rotterdam
Um sebo é extremamente democrático e oferece opções para quem tá com a grana curta (diz a pessoa que já comprou vários livros por R$ 1 e R$ 5) e para aqueles que procuram edições antigas e fora de catálogo. Bibliotecas à parte, os sebos são um contra-argumento para quem reclama do preço dos livros.
Outro assunto discutido é que, embora o hábito de leitura seja fácil de ser cultivado na infância, seu processo é interrompido na adolescência, quando ocorre a burocratização da leitura. Essa é a época em que as professoras nos obrigam a ler os grandes clássicos e colocam nosso conhecimento à prova. Começa aí o processo de distanciamento que pode levar à uma vida adulta sem livros.
Não estamos dizendo que as escolas devam mudar suas exigências apenas para os bestsellers, mas é preciso repensar o método que é utilizado nas aulas de literatura. Alguns autores exigem uma preparação que quase nunca encontramos no ensino médio, o que faz com que os alunos aprendam apenas interpretações clichês e, pior, não saibam nem quem são os autores – esse fim de semana estava assistindo Passa ou Repassa no SBT (quem nunca?) e fiquei estupefata quando nenhum dos garotos de 14 anos sabiam responder Machado de Assis é um autor de qual país?
É preciso criar intimidade com a leitura, com o livro; ler na cama, ler pelado, ler toda hora, como diz Marcelo Lachter no documentário. No fim, temos que concordar com Contardo Calligaris: é sábio desconfiar de quem não lê literatura.