Ela | Spike Jonze mistura o belo e o assustador
Já se falou tanto desse filme que minha opinião parece irrelevante, estou escrevendo para o caso de você querer especificamente o meu ponto de vista, então ficarei bem feliz!
Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor que ainda não superou sua separação e adia a assinatura do divórcio o quanto pode. Anda cabisbaixo pelas ruas, e sua rotina consiste em trabalhar, voltar para casa – às vezes ouvindo música – e terminar a noite jogando videogame (um joguinho que eu achei incrível por sinal, podem lançar aqui!). No dia seguinte reúne as forças que encontra para se levantar e faz a mesma coisa outra vez.
De início não entendi bem qual era o seu emprego, ou melhor, não quis acreditar que era aquilo mesmo. A empresa BeautifulHandwrittenLetters.com (BelasCartasEscritasÀMão.com), faz exatamente o que parece, com poucas informações do remetente, destinatário e assunto escreve lindas e poéticas cartas “à mão”. E a primeira estranheza foi pensar nesse mundo novo onde as pessoas não podem dispor de alguns minutos usando o próprio punho para escrever poucas palavras sinceras.
Quando um novo Sistema Operacional (SO) é anunciado como revolucionário, Theodore resolve experimentar, o sistema promete evoluir e aprender para sempre atender às necessidades do usuário, e tudo com uma linda voz. Após algumas configurações, somos apresentados à Samantha (Scarlett Johansson).
Sua primeira tarefa é organizar o e-mail de Theodore, e eu só consegui pensar o quanto gostaria que ela fizesse isso com o meu correio eletrônico, que maravilha, alguém que separe as propagandas, as piadas velhas e os lembretes esquecidos do que é realmente útil e ainda por cima diga quais das suas ideias geniais valem a pena ser guardadas.
Samantha não é só uma voz no ouvido do protagonista, é uma presença quase palpável. Ela é engraçada, inteligente, companheira, tem o timing perfeito e se torna mais ‘humana’ a cada dia. Não é de se estranhar que Theodore passe cada vez mais tempo conectado a ela. É como todo começo de romance, cheio de sorrisos e descobertas.
É tudo muito lindo nesse mundo futurístico do diretor Spike Jonze, o apartamento de Theodore, o de sua amiga Amy (Amy Adams), vistas espetaculares, excelente espaço de trabalho, parques, praias, as ruas são limpas, nenhum mendigo à vista e ninguém fuma.
Mas essa paisagem quase imaculada é também inquietante, poucas pessoas interagem, a maioria observa uma tela ou gesticula falando sozinho, cada um com seu próprio SO personalizado.
Tem muita gente por aí (eu!) em um relacionamento sério com o próprio smartphone, ainda não é assim, talvez falte pouco, e isso me assusta.
Ela, é uma crítica clara sobre como a tecnologia está mudando os relacionamentos, mas também fala sobre como tratamos o amor, como depositamos no outro as nossas esperanças de felicidade, e esperamos nada menos que a perfeição.
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P.S.: Vale a pena conferir a trilha sonora, são 13 músicas instrumentais compostas pelo Arcade Fire, você pode ouvir aqui.
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