O Cortiço, Aluísio Azevedo
Dando continuidade aos livros de vestibular, hoje vamos falar sobre O Cortiço de Aluísio de Azevedo.
Publicado em 1890, a obra é um marco do naturalismo no Brasil, onde os personagens principais são os moradores de um cortiço no Rio de Janeiro, lar dos excluídos, dos humildes e todos eles possuem os seus problemas e vícios, decorrentes do meio em que vivem.
O naturalismo foi a primeira escola literária que se prontificou a olhar para a sociedade brasileira pela pretensa razão. No Brasil, confunde-se ideologia com ciência. Exemplos disso estão nos comentários realizados diante de assuntos como cota para estudantes negros ou a vinda dos médicos cubanos para o país – nós não precisamos compactuar com os partidos que estão por trás dessas propostas, mas não podemos comprar ideologia como se fosse ciência, é preciso analisar o assunto do ponto de vista da razão, coletar e analisar os dados.
Aluísio Azevedo tem uma visão pretensamente cientificista de uma sociedade determinada, meio que darwinista – onde o mais adaptado e inteligente vence. Os menos adaptados fracassam e não conseguem. Essa é uma ideologia disfarsada que o romance vai problematizar.
Para Azevedo, o naturalismo significou a busca de uma nova atitude em concordância com o rigor da disciplina cientifica. Essa literatura pretende acompanhar o progresso da sociedade e convida o leitor a abrir mão da sua posição passiva e partilhar o entusiasmo e a intervenção política.
O Cortiço é considerado um romance híbrido, pois combina dados da realidade imediata – como se o autor fosse um repórter – com certos efeitos inverossímeis, uma fabulação artificial. Um paralelo contemporâneo é o programa Pé na Cova da Rede Globo, que explora os tipos humanos da sociedade, mas com situações rocambolescas e inventivas.
Machado de Assis foi o responsável por abrir o caminho para o romance moderno no país, mas foi Aluísio de Azevedo que preparou a sociedade para essa nova fase, e não é surpresa O Cortiço ser considerada a obra prima do naturalismo brasileiro. O romance fica entre um Brasil arcaico que precisa ser superado e um Brasil moderno. O antigo é uma marca de atraso e o futuro é angustiante, pois não sabemos o que virá.
A história é uma alegoria brasileira e representa as linhas de força presentes no Brasil, radiografando uma determinada comunidade onde as diferenças se dão por uma cordialidade, fraternidade, exploração sexual e diferenças sociais.
Para o autor, o homem, diante das condições abjetas do meio, perde uma originalidade/humanidade e ganha um brutalismo – a sociedade corrompe. Dentro da estética naturalista, Azevedo faz uma crítica de que o organismo social é devorador e pulsante – plena de vida – e é ali onde imperam as leis da natureza.
No decorrer do romance, observamos como a sociedade seduz alguns para o padrão burguês/classe média, ao mesmo tempo em que faz um inventário alimentício, de vestimenta, medicamental, musical, que serve como fonte de pesquisa para diversos historiadores.
Atualmente, ou a prosa assume um estatuto do grotesco (no qual as relações sociais são apresentadas exageradamente), ou elas viram documentário. Não temos muitos exemplos onde encontramos um cruzamento entre tipos literários e reais. Avenida Brasil tentou retratar a sociedade dessa maneira, mas acabou sendo hiperbólica.
No vestibular, não basta dizer como uma obra ou seu autor são clássicos, é preciso estabelecer vínculos para que eles sejam válidos ainda hoje.
Para quem ainda não se convenceu que essa é uma obra que vale a pena ser lida, O Cortiço tem adaptações em filme e histórias em quadrinho.
O filme de 1978 dirigido por Francisco Ramalho Jr. traz no elenco, entre outros atores, a atriz Betty Faria. Fiel ao livro, ele retrata o cortiço carioca e foca a trama em João Romão, o português dono das casas, e Rita Baiana, mulher expansiva e muito desejada.
Já a HQ é uma adaptação de Rodrigo Rosa e Ivan Jaf, lançada pela Editora Ática. Rosa e Jaf fizeram intensa pesquisa para reconstituir a paisagem do morro carioca com seus cortiços no século XIX e você pode comprar essa edição clicando aqui.
*Este texto foi escrito com base no evento Literatura Cásper
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