O ano é 2011 e Adolf Hitler acaba de acordar em um terreno baldio de Berlim. Ele veste seu uniforme completo, que cheira a combustível, e sente uma forte dor de cabeça – reza a lenda que o líder nazista se matou com um tiro na cabeça no dia 30 de abril de 1945 e teve o corpo queimado.
O tema é intrigante, com certeza. Ao contar para alguns amigos sobre que estava lendo, a principal reação foi um levantar assustado de sobrancelhas ao imaginarem como seria se o führer tentasse governar em nosso mundo supostamente tão moderno e os estragos que ele poderia causar com as novas tecnologias e meios de comunicação.
O primeiro estranhamento se dá pela narrativa ser em primeira pessoa e você estar dentro da cabeça de Hitler. Em seguida, você percebe que ele é um homem comum, confuso pela situação em que se encontra e com dificuldades para sintonizar uma estação de rádio. Cadê o monstro nazista?
A narrativa segue um ritmo lento, talvez justamente para que possamos conhecer o protagonista antes de suas estratégias ditatoriais – a história só entra no ritmo mesmo por volta da página 100, quando Hitler inicia seus trabalhos em uma produtora. Mas o que ele enxerga como um plano de reconstrução do Reich, os outros veem como virais führiosos no YouTube.
O estranhamento causado pelo livro é muito grande. Mais do que uma sátira ao líder nazista, Vermes critica a sociedade atual, obcecada pela mídia e pelas celebridades.
Ele Está de Volta não é apenas um tipo de sátira aceitável, mas talvez seja necessária. As gerações passam, e a memória se apaga. E a melhor maneira de não esquecer os perigos do discurso totalitário e pregador do ódio é rindo dele, para não levarmos a sério os futuros candidatos a facínoras.
Guilherme Solari – UOL
–
Título Original: Ele está de volta
Autor: Timur Vermes
Tradução: Petê Rissatti
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
Cortesia da Editora