O fim da guerra: A maconha e a criação de um novo sistema para lidar com as drogas, Denis Russo Burgierman
Perdi a conta de quantas vezes esse livro me chamou a atenção em livrarias, físicas ou virtuais, com uma capa tão bonitinha e inofensiva, e um título que prometia muita seriedade.
Tentei me desarmar de preconceitos para começar a leitura, e ignorar a vergonha de carregá-lo pra cima e pra baixo imaginando que cada senhorinha que se sentasse ao meu lado no ônibus poderia ficar chocada com uma mocinha lendo esse tipo de coisa. Mas Burgierman tratou de resolver logo meu problema, sua primeira frase foi:
“O tema principal deste livro é maconha, algo meio constrangedor de admitir.”
Well, se o autor pensa assim, cada um que lide com seu constrangimento. O importante é que li de cabeça e coração abertos, tentando absorver o máximo que uma leiga poderia, e acho que foi bastante, por que apesar de o assunto ser polêmico a narrativa é muito clara e objetiva, e o autor expressa sua doçura inúmeras vezes ao longo do livro.
O fim da guerra é um passeio pelas principais políticas antidrogas do mundo, e a forma como o consumo de maconha tem relação com a eficiência destas.
Em todos os exemplos citados no livro o uso da maconha é legalizado ou liberado de alguma forma.
Explica como se deu a criminalização dos usuários, e tenho que confessar que fiquei puta da vida um pouco indignada, em saber que o pontapé inicial foi um político que queria mais verba para sua campanha antidrogas, e “plantou” nos jornais crimes fictícios que teriam sido cometidos sob o uso da canábis.
Dos coffee shops holandeses em decadência até o Instituto da Droga e da Toxicodependência de Portugal, a pesquisa mostra que a fórmula do sucesso não pode ser comprada, cada país tem sua história e forma de pensar, e exige um plano de ação diferente.
Mas o ponto comum é que se deve usar um método complexo para lidar com um sistema complexo, totalmente pensado por especialistas, e não por políticos que só se importam com os votos futuros e com não passar a imagem errada à população.
O uso medicinal da maconha já foi comprovado, só fecha os olhos quem não quer ver. Muitos benefícios para doentes em diversos níveis, e inclusive no tratamento de dependentes de drogas mais pesadas. O uso recreativo também precisa ser descriminalizado, já que nem de longe a maconha causa tantos danos quanto o álcool, que é socialmente aceitável na maioria das culturas.
A moral da história é bem simples, o controle deve passar do poder judiciário para a saúde pública, a diferença entre projetos que deram certo e os que gastam milhões sem resultados positivos, é que pessoas que gostam de cuidar das outras estão à frente, ao invés de pessoas que só se preocupam em punir e apontar culpados. Tratar um dependente como doente e não como criminoso, muda a percepção da sociedade, o jovem prefere a visão boêmia das drogas. Ser visto como alguém que desafia as leis é diferente de ser alguém que precisa de cuidados médicos.
Liberar, regular e cuidar são palavras-chave neste livro, em todos os casos de sucesso houve resistência dos conservadores, mas a opinião muda quando os resultados aparecem.
Nota: Esta resenha não expressa necessariamente a opinião e valores d’Amora Literária, nem tem por objetivo fazer qualquer tipo de apologia, somente estimular a busca de conhecimento e formação de pensamento próprio.