Não sou uma dessas | Lena Dunham

Quando surgiu todo o buzz sobre a série Girls resolvi assistir certa de que iria adorar. Devo ter insistido assistido 6 ou 7 episódios inconformada, balançando a cabeça de um lado pro outro e sem entender o motivo de tanto sucesso.

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Não me conquistou, apesar de me identificar um pouco (bem pouco) com cada uma das quatro amigas, o que deveria ser um retrato da realidade das garotas urbanas só me deu vergonha alheia.

Mesmo assim, nada tendo contra a pessoa de Lena Dunham, quis ler o seu livro Não sou uma dessas, e quem sabe enfim compreender sua série.

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Comecei implicando pelo título, que vai contra um dos princípios do feminismo, que é unir todas as mulheres pela causa, não existem elas, só existem nós. Não sou uma dessas traz consigo segregação e o conceito de que existe um tipo errado de mulher.

São pequenos comentários desse tipo que me tiraram do sério, como em uma passagem em que Lena descreve ter conseguido resgatar um pássaro com as próprias mãos e se gaba “que mulher faz isso?”. E eu digo: Qualquer uma. Qualquer pessoa faz isso desde que tenha a devida disposição ou treinamento. Que se gabe por ser um ser humano com habilidades.

Lena descreve os acontecimentos como se a vida fosse algo que alguém estivesse fazendo a ela, como se fosse levada quase que em dormência, se eximindo de responsabilidades.

Mas gente, uma pessoa que consegue escrever, dirigir e estrelar uma série na HBO precisa ter o mínimo de obstinação. Por isso persisti, acreditando que ela não poderia ser uma pessoa tão superficial assim.

Depois de ler mais de um terço do volume, finalmente peguei o ritmo e alguma afeição por Lena, ela é sim estranhíssima, se dá importância de mais e pensa que é a voz de sua geração. Mas é também uma garota comum, cheia de dúvidas e manias que teve a sorte de nascer em um berço privilegiado, onde pode desenvolver todo seu potencial artístico sem nunca ter que se preocupar com o aluguel do próximo mês.

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O livro é dividido por seções, Amor & sexo, Corpo, Amizade, Trabalho e Panorama. Por não seguir uma lógica linear, você só consegue ter uma vaga noção de quando aquilo aconteceu. Pra mim isso foi um pouco complicado, não conseguia empatizar (?), por não saber o impacto que cada situação causou nela, as mudanças acarretadas, então alguns pontos pareciam rasos.

Mas este é um livro de memórias, um diário, uma autobiografia organizada, Lena não quer fazer amigos contando suas histórias, só quer contá-las, de um jeito que ela pode rir de si mesma ao mesmo tempo em que é a protagonista.

O autocentrismo da autora pode ser um bom conselho pra todas nós, se o que ela diz importa, se tem coragem e liberdade para se expor tão abertamente, podemos soltar nossas vozes e contar nossas histórias também, passando por cima de todo incômodo que isso possa causar ao mundo.

SELO SITETítulo Original: Not that kind of girl
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 304