As aulas de artes do professor Freeman são sua única forma de expressão – e fuga. Vítima de bullying, ela se torna depressiva e começa a ir mal na escola.
Fale! faz de nós amigos invisíveis de Melinda. Sabemos o que ela está sentindo e acompanhamos a sua luta diária para tentar esquecer ou lidar com suas lembranças. Laurie Anderson escreve de forma leve e objetiva e consegue colocar em palavras todo o sofrimento e a tristeza de Melinda.
Não é spoiler quando eu digo que Melinda foi vítima de um estupro. As primeiras páginas do livro têm um poema escrito pela autora a partir das milhares de cartas e e-mails que ela recebeu de leitores que se identificaram com a personagem. Fiquei chateada quando li, pois gostaria de ter descoberto durante o romance; mas a verdade é que a história não é sobre o que aconteceu, mas sobre como uma pessoa (sobre)vive depois disso.
A mensagem do livro cabe em uma palavra, em um título: Fale!. A melhor maneira de superar a dor é falando sobre ela. Laurie busca dizer a todos os jovens, homens ou mulheres, que o acontecido não foi culpa sua e que nada justifica os atos do seu agressor. A única coisa que você pode fazer é falar – seja para encontrar conforto entre amigos ou para impedir que o agressor aja novamente.
O livro, vencedor do prêmio New York Times, ganhou uma adaptação cinematográfica em 2004. O silêncio de Melinda, com Kristen Stewart no papel principal, é bem fiel à história. Embora algumas sutilezas da narrativa fiquem por conta da interpretação do espectador, o impacto visual do que aconteceu contribui para fortalecer a mensagem. O filme ganhou o Woodstock Film Festival 2004 como Melhor Filme de Narrativa e está disponível no YouTube:
No final da edição publicada pela editora Valentina, encontramos alguns dados (assustadores) sobre a violência no Brasil:
- A cada 8 minutos, uma criança é vítima de abuso sexual. A grande maioria das vítimas são meninas com idade entre 2 e 15 anos. É estimado que o abuso sexual contra crianças e adolescentes atinja mais de 30% da população. Aproximadamente 60% das vítimas são atacadas por alguém que conhecem.
- A cada 12 segundos uma mulher é violentada no Brasil.
- Uma em cada 9 vítimas de abuso sexual na infância passará a abusar sexualmente de outras crianças quanto atingir a idade adulta.
- A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que apenas 2% dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, nos casos em que o agressor é parente próximo, chegam a ser denunciados à polícia.
Se você suspeitar ou tiver conhecimento de alguma criança ou adolescente que esteja sofrendo qualquer tipo de violência, denuncie!
As denúncias podem ser feitas em uma dessas instituições:
- Conselho Tutelar: os CTs foram criados para zelar pelo cumprimento dos diretos das crianças e adolescentes. A eles cabe receber a notificação e analisar a procedência do caso, visitando as famílias. Se for confirmado o fato, o Conselho deve levar a situação ao conhecimento do Ministério Público.
- Escola, com os professores, orientadores e/ou diretores.
- Disque 100: Atendimento telefônico da Secretaria de Direitos Humanos (ou pelo e-mail disquedireitoshumanos@sdh.gov.br) – canal gratuito e anônimo;
- Central de Atendimento à Mulher (180): Linha gratuita e que funciona 24h para denúncias de violência contra a mulher/adolescente.
Em agosto de 2006 foi aprovada a Lei Maria da Penha (www.mariadapenha.org.br), que visa coibir qualquer tipo de violência contra a mulher. Foram criadas delegacias especiais para cuidar desses casos. Voluntárias que já sofreram algum tipo de abuso criaram uma rede social para dar suporte e força (www.leimariadapenha.com.br).
Garotos também podem ser vítimas de agressão sexual. Nos EUA, 1 entre 33 rapazes será vítima de agressão sexual ou estupro. Em 2003, 10% das vítimas de estupro eram do sexo masculino.
As vítimas de agressão sexual têm:
- 3 vezes mais chance de sofrer de depressão.
- 6 vezes mais chance de sofrer de transtorno de estresse pós-traumático.
- 13 vezes mais chance de consumir bebidas alcoólicas em excesso.
- 26 vezes mais chance de consumir drogas.
- 4 vezes mais chance de pensar em cometer suicídio.
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Título Original: Speak
Editora: Valentina
Páginas: 288