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Eu, Robô, Isaac Asimov

Ao contrário do que ouvi de muita gente, Asimov não é um autor difícil. Já escrevi aqui sobre a coleção de contos fantásticos que ele elucidativamente revisa e resenha e agora terminei Eu, Robô.

Indo de encontro às minhas expectativas, o livro é formado por várias histórias narradas a um jornalista por Susan Calvin, robopsicóloga da US Robôs. Ao mesmo tempo que são pequenos contos, eles se comunicam e aos poucos formam o quebra-cabeça com a imagem do mundo imaginado por Asimov. Um mundo onde robôs se assemelham em muitos aspectos aos seres humanos, certamente porque foram criados por eles – mas a surpresa fica por conta da narrativa observadora e sensível do autor, que nos mostra como a nossa raça é incrivelmente frágil e surpreendetemente criativa, uma criatividade que por diversas vezes é traduzida em inteligência pura.

Isaac Asimov tinha 19 anos quando começou a escrever suas histórias sobre robôs. Era 1939, a Segunda Guerra Mundial estava começando e Asimov era um estudante que escrevia contos e poesias para ganhar um dinheiro extra. “Ele criou a palavra robótica, assim como as famosas três Leis da Robótica que se tornariam um marco da literatura de ficção científica, influenciando gerações de escritores e cineastas. Em suas palavras, as Leis da Robótica foram concebidas ‘como uma resposta à síndrome de Frankstein’: a crença de que robôs e seres artificiais seriam uma ameaça à humanidade”, conta Jorge Luiz Calife no prefácio da edição de 2004.

Caso você não se lembra ou não conheça, as três leis essenciais da robótica são:

Primeira Lei: um robô não pode ferir um ser humano ou, através da inação, permitir que um ser humano seja ferido.

Segunda Lei: um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto se tais ordens entrarem em conflito com a Primeira Lei.

Terceira Lei: um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei.

“Com essas leis básicas a ficção científica pôde se libertar de clichês e mitos que prejudicaram a criatividade dos autores durante mais de um século”, explica Calife. Ao contar a história da evolução dos robôs, Asimov explora o desdobramento e as implicações das três Leis e aborda questões como Para salvar a humanidade, vale a pena sacrificar alguns humanos?. Ao mesmo tempo que são histórias futuristas, não podemos negar que o nosso mundo está a cada dia mais próximo do mundo de Asimov.

Na vida real os computadores deixaram de ser monstros ameaçadores e entraram em nossas casas, virando nossos companheiros de trabalho e de lazer. A revolução da informática nos deu a internet e o microcomputador é o ínicio da parceria entre homens e máquinas prevista nos contos de Asimov. Hoje, a robótica e os robôs humanóides já deixaram de ser fantasia. O que era o sonho de um escritor em 1939 tornou-se uma ciência (…). Robôs, como os sonhados por Asimov, começam a caminhar nos laboratórios da Sony japonesa, que vem testando vários modelos destinados a viraram serviçais domésticos, como o personagem do conto Robbie. Um dos primeiros robôs a ser comercializado é um humanóide de 1,20m criado pela empresa japonesa Honda e que recebeu, com muita justiça, o nome de Asimo

Curiosa para saber como o livro fora parar nas telonas, assisti ao filme homônimo, com Will Smith no papel principal. A trama foi inspirada no último conto O conflito inevitável, que discute o destino da humanidade. Mas tem elementos de outros contos, como Pequeno Robô Perdido, onde um entre sessenta e três robôs está com as leis desconfiguradas. O filme também traz a Dra Susan Calvin (retratada de maneira bem mais emocional e menos racional do que na obra de Asimov) e o Dr Alfred Lanning (também numa versão humanizada e cinematográfica) e mistura um pouco a síndrome de Frankstein com as crenças de Asimov. Confira o trailer abaixo:

Isaac Asimov morreu em 1992, aos 72 anos, deixando uma obra de 470 volumes sobre assuntos que vão de ciência a Shakespeare.