Bom de Briga, Markus Zusak

Sempre achei o adjetivo “eletrizante” um pouco bobo quando se fala de livros, mas ele cabe aqui, Bom de Briga é cheio de energia, daquelas histórias que dão comichões.

Cameron e Ruben Wolfe ainda são dois casos perdidos, garotos tentando encontrar algo de útil pra da vida, e enquanto isso seguem fazendo bobagem, apostam em cachorros de corrida, vendem equipamentos quebrados para os vizinhos, planejam assaltos, e cada um de seus planos geniais só traz novos prejuízos.

bomdebrigaAté que uma briga na escola muda o rumo dos irmãos. Rube massacra um colega que resolveu insultar sua irmã, e cai nos ouvidos de Perry Cole, um promotor de lutas clandestinas, procurando por sangue fresco para sua equipe.

A vida na casa dos Wolfe está ainda pior, a mãe dobra os turnos para sustentar a família, o filho mais velho se muda, Steve está cansado de discutir com o pai desempregado que se recusa a receber seguro-desemprego, pois considera isso uma vergonha. Além da crise financeira, a irmã Sarah ainda está se recuperando do rompimento com o namorado.

Apesar do cenário triste, a família parece estar mais próxima que em O Azarão, onde aparecia mais como um plano de fundo para os conflitos de Cameron, talvez por Rube estar em foco dessa vez, consigamos interagir melhor com cada membro.

Querendo reagir, ser alguém e contribuir para tirar os Wolfe do buraco, os garotos aceitam a proposta de Perry e se tornam boxeadores, as lutas de “Um Soco” no quintal se tornam apenas treino, e agora eles têm alguma coisa real em que se empenhar.

– Não perca o seu coração Rube.
E, com uma voz bem clara, sem se mexer, meu irmão me responde.
Ele diz:
– Não estou tentado perder, Cam. Estou tentando encontrar.

Durante a leitura é impossível não se identificar com os dois irmãos, eles não querem apenas ser vencedores na vida, querem ser lutadores, querem se sentir merecedores de suas conquistas. Estão crescendo.

Mas nenhum de nós sabe, porque uma luta não vale nada se você sabe desde o início que vai ganhar.

A escrita de Markus Zusak é leve e descontraída, cheia de repetições e trocadilhos com o sobrenome Wolfe, é como invadir a cabeça de Cameron. Dessa vez, ao invés de sonhos, conversas entre os caçulas entremeiam os capítulos, segredos revelados somente quando as luzes da cidade já se apagaram.

O segundo livro da trilogia Irmãos Wolfe é imensamente melhor que o primeiro, se você leu O Azarão e não gostou tanto, dê uma segunda chance, li em três dias, mas dá pra ler em menos e sair sorrindo, querendo saber o que mais o futuro reserva a essa família de coração transbordante.

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Título original: Fighting Ruben Wolfe
Editora: Bertrand Brasil
Número de páginas: 206