A Arte de Pedir | Amanda Palmer

Por umas três semanas Amanda Palmer esteve sentada ao meu lado a caminho da empresa, contando sua história. Para mim, tempo demais lendo um livro de apenas 300 páginas, mas não o suficiente, os dias foram passando e eu mergulhei no universo dessa estátua-viva / roqueira / feminista, me senti tão próxima dessa mulher maravilhosa com tanto a dizer, que queria que nossa conversa durasse muito mais.

ALGUÉM TEM UM ABSORVENTE? ACABEI DE FICAR MENSTRUADA.

untitledCom essa frase tão comum às mulheres, a agora também escritora, inicia sua teoria sobre o pedir.

Depois de terminar a faculdade, com o sonho de ter uma banda, mas ainda meio perdida, Amanda vê na performance como estátua-viva uma saída simples para ganhar dinheiro com um horário flexível. E para quem acha que colocar o chapéu na calçada, se vestir de noiva e esperar a boa vontade de um desconhecido é simples, tem muito o que conhecer sobre os artistas performáticos.

Exposta ao clima e ao público, Amanda aprendeu a primeira lição rumo à sua grande descoberta: não só olhar as pessoas, mas ver o outro, reconhecê-lo como único. Todo ser humano quer somente uma coisa verdadeiramente, ser amado.

O livro surgiu de sua palestra no TED (que você assiste aqui embaixo), que por sua vez surgiu do sucesso arrasador de sua campanha no Kickstarter. A cantora teve a coragem de dizer adeus à uma gravadora que não acreditava completamente em seu talento e pedir aos fãs dinheiro para produzir e promover um novo álbum. Com o objetivo inicial de 200 mil dólares, a arrecadação ultrapassou a marca de 1 milhão e se tornou uma lenda no meio.

Apesar de saber pedir lindamente, a descarada da Amanda ensina que o verdadeiro segredo de seu sucesso é a construção de suas relações. Pedir te faz vulnerável. Quando você pede, está dando opção às pessoas de te dizer não.

Estamos de olho e temos provas de que você não tem A MENOR IDEIA DO QUE ESTÁ FAZENDO. Você é acusada do crime de dar um jeitinho, culpada de só inventar merda, e na verdade você nem merece seu emprego, vamos levar tudo embora e CONTAR PARA TODO MUNDO.

Esse sentimento de que “estou fazendo alguma coisa errada, como é possível que as pessoas acreditem em mim, eu não sei de nada! Socorro!” foi carinhosamente apelidado de Patrulha da Fraude, e eu quase chorei quando li este trecho e vi que acontece com outras pessoas. O medo quase paralisante que sentimos quando estamos prestes a fazer ou decidir algo importante. É preciso sair da zona de conforto para conseguir o que se quer, prática, alguma ajuda, coragem, mas às vezes o principal pode ser um bom motivo.

Um camponês está sentado na varanda de casa, à toa.
Um amigo aparece para cumprimentá-lo e ouve um som medonho, um ganido agudo e prolongado, vindo de dentro de casa.
– Que som pavoroso é esse? – pergunta o amigo.
– E o meu cachorro – responde o camponês – Está sentado num prego.
– Mas por que ele não levanta e sai dali? – quer saber o amigo.
O camponês pensa e então diz:
– Ainda não dói o suficiente.

Sem me alongar mais, afinal eu espero que você leia o livro e venha conversar comigo. Eu só preciso agradecer à minha nova amiga Amanda (desculpa Melaré), também pela oportunidade de adentrar um pouquinho da intimidade do meu escritor favorito, as histórias sobre o crowdfunging e a relação com os fãs são acompanhadas de sua inusitada história de amor com Neil Gaiman.

Que você tenha forças para se levantar do seu prego!


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Título Original: The Art of Asking
Editora: Intrínseca
Tradução: Denise Bottmann
Número de Páginas: 305