Personagens na multidão: Sr. Magela

Nascido e criado em Aparecida, o Sr. Geraldo Magela dos Santos tem a vida enraizada na cidade. Casado há 40 anos com a Dona Juliana e pai de três filhos adultos, Sr. Magela ainda preserva uma profissão que já fora muito comum entre os aparecidenses, ele faz moldes de cera sob medida.

Os moldes incluem casas, carros, diplomas, no entanto as mais comuns são as que têm forma de partes do corpo, cada peça representa uma graça alcançada e um milagre atribuído a Nossa Senhora Aparecida.

Ao longo dos últimos anos Sr. Magela viu suas vendas despencar, mudou-se esperançoso para uma pequena loja no Centro de Apoio aos Romeiros e descobriu que o problema não estava na localização, mas nas fábricas que hoje produzem as peças em grande escala reduzindo drasticamente os preços.

“É que eu sou um artista!”, diz o artesão com orgulho, “As fábricas fazem tudo igual, acho que aí não vale a promessa, você não trouxe uma perna igual a sua, trouxe uma perna padrão.”

Ao entrar na Sala das Promessas, na Basílica é possível diferenciar quais peças artesanais feitas pelo Sr. Magela. Hoje ele faz outros trabalhos em cera também para conseguir se manter, participou de um curso de velas aromatizantes e sabonetes e conta que os romeiros adoram, além de um lugar de oração a Santuário se tornou também um centro de compras.

Nos muitos anos de profissão, muita gente passou pela loja do Sr. Magela com pedidos inusitados, o mais marcante deles foi de um rapaz que prometeu deixar na Sala das Promessas uma réplica de seu pênis, “Eu fiquei com vergonha demais, onde já se viu? O rapaz era novo, trouxe a mulher e o filho junto, um bebezinho de colo, disse que era um milagre que agora tinha uma família, só depois de 6 anos de casado conseguiu emprenhar a moça. Depois de muita conversa ele me convenceu, disse que pagava o valor de 4 pernas inteiras se eu quisesse, eu não sou homem de recusar uma oportunidade dessa. Agora eu dou risada, mas na época fiquei com medo do povo falar.”

Entre muitas gargalhadas perguntei se ele acreditava em milagres de verdade e se já tinha feito alguma peça de cera para pagar uma promessa própria.

“Eu acredito sim, se não acreditasse não tava mais nessa cidade que só se fala disso o tempo inteiro. Eu mesmo nunca precisei prometer nada, mas nunca se sabe. Eu sei o valor do meu trabalho, mas acho que isso de levar molde pra santa coisa de gente antiga, o que a santa vai fazer com tudo aquilo? Acho melhor prometer ajudar alguém, nem precisa prometer é só ajudar, assim você mesmo faz um milagre na vida de alguém. ”

Me despedi do Sr. Magela levando seu belo conselho e alguns sabonetinhos de maracujá que ele tinha acabado de embalar.