O dono da sorte
Seu Jorge ia toda semana à casa lotérica no final da sua rua para apostar os mesmos seis números no maior prêmio da loteria federal.
5 – 15 – 21 – 24 – 30 – 42
Ele jamais revelava o significado destes números, dizia que o acompanhavam desde moço, e mesmo sem nunca ganhar continuava jogando. E todos na vizinhança sabiam dessa rotina.
Um dia, Seu Jorge adoeceu.
No caixa da casa lotérica trabalhava a jovem Ana, tinha acabado de entrar na faculdade de contabilidade e tinha esperanças de sair da pequena cidade assim que se formasse e tivesse dinheiro o suficiente.
Aninha esperou o dia todo e como o senhor simpático não apareceu, jogou ela mesma os famosos números e na volta pra casa, depositou o canhoto carinhosamente na caixa de correio do Seu Jorge junto com um bilhetinho lhe desejando melhoras.
Foi nesse dia que os números de seu Jorge foram premiados.
A casa lotérica do final da rua ficou famosa no país inteiro, mas perdeu seu mais fiel e simpático cliente e sua tão prestativa balconista.
Os dois brigam até hoje na justiça pelo direito ao prêmio.
Seu Jorge defende que são seus números de sorte ali, e que qualquer um na vizinhança pode servir de testemunha dos anos em que passou apostando neles, semana após semana. Já Aninha, afirma que se os números fossem realmente da sorte – de Seu Jorge – , ele teria ganho o prêmio na primeira tentativa.
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