como o pateta

Já estava amanhecendo.

Ela podia sentir o sol alcançando o seu braço e uma pequena onda de calor se espalhar pelo seu corpo, como se dissesse para não se preocupar.

O amadurecimento do ser humano é uma coisa engraçada. Sempre pensamos que o problema que estamos enfrentando é a tragédia dos últimos tempos e que, se não o resolvermos, o mundo desabará sob nossos pés. Com o tempo, percebemos que o que passou não era tão monstruoso, era um aprendizado. E que hoje somos pessoas mais sensatas por causa disso.

Ainda assim, enfrentamos as dificuldades como emergências irremediáveis. A diferença é que, sendo adultos, sabemos – na maioria das vezes – que aquilo nos trará algo de bom. O sofrimento desabrochará e nos trará paz para seguirmos em frente.

É como… remédios. Ficamos doente quando crianças e esperamos que a saúde venha em um passe de mágica. Quando crescemos e saímos de casa, aprendemos que precisamos tomar aquele remédio ruim para a dor ir embora.

Quando ela era criança, seus pais a faziam tomar remédio tampando o nariz, pra não sentir nada – “como o pateta”. Anos mais tarde eles confessaram ter inventado a brincadeira, mas ela ainda pensava: por que não?

Era isso, então, o que ela faria. Tamparia o nariz e enfrentaria o fantasma do passado que, every now and then, voltava para lembrá-la daquela ferida aberta.

Afinal, o sol já brilhava em seu rosto, tinha um dia lindo nascendo na sua janela e tudo – TUDO – ficaria bem.