Por M. Deméter*
Louis encarava a garota à distância, não ousava se aproximar e estragar aquela imagem mágica que se dava ao redor dela. Havia sempre aquela áurea encantada em seu entorno, um quê meio irreal que chamava tanta atenção dos rapazes – era visível como a maioria virava o rosto para segui-la com o olhar, lutando para não perderem aquela visão miraculosa que era Marcelle.
Ela estava com duas amigas, trocando palavras quaisquer e nem desconfiava de toda atenção que despertava. Marcelle era na verdade triste, pois eram poucos os homens que tinham coragem de chegar até ela.
Talvez uma comparação próxima seja a história de Psiquê, a humana mais bela de todas da mitologia grega, que fez com que Eros se apaixonasse e ao mesmo tempo despertou a ira de Afrodite, Deusa da Beleza.
Ou ao menos era assim que Louis a enxergava.
Era realmente bela, tinha o cabelo liso e claro, a pele branquíssima e as bochechas sempre coradas, isso para não falar dos olhos, o ponto máximo de toda aquela mágica que irradiava dela, eram também claros, quase cinzas, como de uma princesa nórdica.
Parecia até uma figura de contos de fada, mas o que Louis não imaginava era a insegurança e a ingenuidade que habitavam dentro daquele corpo, que antes de belo era frágil devido as incertezas da garota.
Não imaginava, mas Louis também era um rapaz especial. Era gentil e honesto, se preocupava com os outros antes de si mesmo, além de observar as pessoas ao seu redor e perceber sentimentos que carregavam. Sentimentos que de tanto analisar, percebia também em Marcelle, sem entender exatamente o que era, enxergava apenas certa tristeza permanente.
Em seus pensamentos debatia sobre as chances que teria ao falar com ela. Ele que mesmo cheio de qualidades, era de uma aparência simples e nada chamativa, tinha seu charme, mas não se comparava ao dela.
Contava também com a ajuda de um amigo, o único que sabia de seus sentimentos por Marcelle. Sentimento esse que era realmente amor, mesmo sem terem conversado muitas vezes.
— Você precisa criar uma oportunidade para falar com ela, Louis. – era o conselho do amigo.
— Concordo, mas eu nunca sei o que ou como falar, ela parece sempre tão distante.
— Ora, aproveite a oportunidade dela estar na sua casa, se não conseguir, ao menos na hora de ir embora ela falará com você.
Marcelle e suas amigas estavam na casa dele, em uma festa, e o amigo tinha razão, ela era educada e com certeza iria se despedir do anfitrião.
Louis encarava a garota à distância, não ousava se aproximar e estragar aquela imagem mágica que se dava ao redor dela. Mas ele sabia que logo chegaria o momento e ele estava preparado para falar o que fosse preciso.
Ela tinha os gestos cheios de delicadeza, a forma como gesticulava com as amigas, como olhava com intensidade ao prestar atenção no que quer que fosse, ou como passava os dedos entre as madeixas do cabelo que escapavam de trás da orelha, onde ela os acomodava.
Às vezes seus olhares se encontravam, ela sorria tímida e desviava como se estivesse numa alucinação, não acreditando que ele a encarava. Louis era muito mais popular que ela, apesar de tudo.
Marcelle era sempre aquela que ficava em silêncio e prestava atenção em tudo, sem interferir, a não ser que alguém direcionasse sua fala para ela, e apenas para ela. Aí então ela responderia com afinco, deixando clara sua opinião, mas ainda com medo de errar ou de tremer a voz. Não gostava da atenção, já a tinha demais pela aparência.
Desejava apenas que gostassem dela, e que encontrasse seu verdadeiro amor, mesmo sem coragem para tomar as rédeas das situações.
Era inteligente, mas covarde. Frágil, para usar uma palavra mais pacifica. Enquanto ele parecia cheio de coragem, falava alto e estava sempre rodeado de amigos, também inteligentes, mas cada um a sua maneira.
Mal sabia Marcelle que, quando se tratava do romance, na verdade era tão tímido quanto ela. Se não até mais, tinha medo de se envolver, mas por ela desejava tomar aquela iniciativa e conquistar a garota dos contos de fadas para si.
— Convide-a para sair, só os dois, assim terão a chance de se conhecerem melhor. – aconselhou o amigo mais uma vez, no final da festa.
— Ah, você deveria vê-la. – falou ao amigo pelo telefone. – Ela está tão radiante, com o cabelo solto e uma blusa verde contrastando com a pele clara.
Marcelle estava no cômodo ao lado, esperando para se despedir de quem faltava, o anfitrião. Era a única de verde na festa, e sua audição mesmo que não fosse apurada poderia distinguir as palavras de Louis.
Olhou um tanto nervosa, achando que aquilo deveria ser uma piada qualquer, sem acreditar que falava dela para o amigo.
Louis encarava a garota não tão distante, dessa vez teria que se aproximar e estragar aquela imagem mágica que se dava ao redor dela. Ele deu alguns passos em sua direção, ficando perto o suficiente para tocá-la se levantasse o braço.
Os olhos claros encaravam de volta, um tanto assustados e nervosos. As bochechas mais coradas que o normal, o corpo porém imóvel, deixando que o dele se mantivesse perto.
— Já estou indo. – a voz saiu um tanto trêmula. – Me diverti bastante, desculpe se deixamos alguma bagunça na casa.
Louis suspirou, não fora daquela forma que imaginara como a conversa iria começar, mas não poderia deixar a oportunidade passar, além disso, ela também merecia uma explicação, mesmo fingindo que não escutara nada.
Marcelle abraçou-o, um pouco nervosa, para despedir-se como faria com qualquer conhecido. Entretanto, ele passou o braço pela cintura da garota e prendeu-a junto de si.
— Não me importo que deixe a casa bagunçada, desde que venha para me visitar. – ele falou em tom de brincadeira, tentando deixar a voz como nos flertes que direcionava a garotas que não o deixavam nervoso.
Aproximou o rosto e encostou seus lábios nos dela, avaliando o quanto ela queria aquilo. Marcelle não desviou o rosto, atitude que vez com que Louis intensificasse o beijo.
Ela virou o rosto depois de alguns instantes, separando seus lábios. Porém não libertou o corpo, apenas encostou a cabeça no ombro do rapaz. A garota também gostava dele.
— Não podemos fazer isso, Louis. Você não é um desconhecido que posso fingir nunca ter visto antes, como vou olhar em seus olhos quando nos encontrarmos depois? – perguntou com a voz baixa, tímida.
— Se não der certo, pode fingir que nada aconteceu se te fizer sentir melhor. Você é como uma princesa, e eu talvez pareça com um sapo, mas se me der uma chance, posso mostrar o príncipe que há dentro de mim.
Marcelle suspirou um tanto nervosa.
— Tudo bem, tenho um compromisso amanhã de noite, posso te ligar depois e vamos comer em algum lugar.
Era a chance que ele precisava. A oportunidade de Louis mostrar que poderia ser o príncipe para aquela garota dos contos de fadas, o verdadeiro amor que aquela princesa procurava.
*M. Deméter é uma adoradora de títulos, não de autores, com apenas uma exceção: o único preferido Carlos Ruiz Zafón. Começou a ler desde criança, sempre incentivada pela família e nunca parou, seus pedidos de aniversário e natal são sempre indicações de amigos ou sinopses interessantes. Escreve como sonho de vida, mesmo esbarrando em dificuldades aqui ou acolá, sonha com um livro com seu nome e um logo de uma editora grande, renomada e conhecida.
Você pode conhecer um pouquinho mais sobre ela no (My) Imaginary World.